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(Imagem: Divulgação)
Iniciadas em 1998, durante o governo de Mário Covas, as obras do Rodoanel de São Paulo estão perto da conclusão. Nesta segunda-feira (22), está prevista a inauguração do penúltimo trecho do empreendimento, que interliga as principais rodovias que cortam o estado.
Dividido em quatro segmentos — Oeste, Sul, Leste e Norte —, o Rodoanel Mário Covas terá 176 quilômetros de extensão ao todo, com o objetivo de desafogar o tráfego nas vias internas da capital paulista, especialmente nas marginais Tietê e Pinheiros, retirando delas o fluxo de veículos pesados.
O projeto original previa a entrega completa da obra em até oito anos, com prazo final estimado para 2006. No entanto, o cronograma foi comprometido por atrasos, mudanças de gestão, paralisações e denúncias de irregularidades.
A nova previsão do governo estadual é de que o anel viário esteja totalmente finalizado até o fim de 2026 — quase duas décadas após o prazo inicial.
Durante as obras do Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas, dois graves acidentes marcaram negativamente o andamento do projeto. Em novembro de 2009, três vigas de sustentação de um viaduto em construção desabaram, atingindo um caminhão e dois carros que transitavam pela Rodovia Régis Bittencourt. Três pessoas ficaram feridas.
Peritos criminais que investigaram o caso apontaram falha ou ausência do travamento provisório das vigas como causa do acidente. Segundo a análise, o tombamento de uma das vigas provocou um "efeito dominó", levando as demais à queda.
Poucas semanas depois, em dezembro de 2009, um operário morreu ao cair dentro de uma máquina cimenteira em um canteiro de obras do Rodoanel, nas proximidades de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. O Corpo de Bombeiros confirmou que a vítima estava em serviço no momento do acidente.
Os episódios contribuíram para a série de polêmicas que envolveram o empreendimento ao longo dos anos, marcado por atrasos, investigações e problemas estruturais.
Investigações
As obras do Rodoanel Mário Covas, em São Paulo, vêm sendo alvo de uma série de investigações desde sua concepção, envolvendo suspeitas de superfaturamento, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, fraudes em licitação e formação de cartel entre empreiteiras.
Em 2020, o ex-governador José Serra foi alvo de mandados de busca e apreensão após denúncia do Ministério Público Federal (MPF), que o acusou de lavagem de dinheiro ligada ao suposto recebimento de propina da Odebrecht durante a execução do Trecho Sul. Ex-executivos da empreiteira relataram o pagamento de vantagens indevidas para abastecer o caixa 2 da campanha eleitoral de Serra ao governo estadual e garantir proximidade com o então candidato. O político nega qualquer irregularidade e, até o momento, não há condenação transitada em julgado relacionada ao caso.
Outro foco de suspeitas foi o Trecho Norte do Rodoanel, onde uma investigação apontou o desvio de R$ 625 milhões por meio de aditivos contratuais após a assinatura de contrato com a construtora OAS, em outubro de 2014, no Lote 2. Esse inquérito também segue sem condenações judiciais definitivas.
Além das denúncias de corrupção, as obras do Rodoanel também deixaram um rastro de abandono patrimonial. Em Carapicuíba, na Grande São Paulo, um museu construído para abrigar peças arqueológicas encontradas durante as escavações do anel viário estava desativado em 2018, segundo apuração do Ministério Público, que instaurou procedimento para investigar o descaso com o acervo.
Motorista forjou sequestro e bomba falsa
Em novembro deste ano, o trânsito no Rodoanel Mário Covas, na altura do km 45, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, foi interrompido por cerca de cinco horas após uma carreta ficar atravessada na pista. A ocorrência mobilizou a polícia sob a suspeita de que haveria uma bomba na cabine do veículo.
O artefato, no entanto, foi analisado pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) e não continha material explosivo. O motorista foi encontrado com as mãos amarradas e levado a um hospital, sendo tratado inicialmente como vítima de um possível sequestro.
Dias depois, a investigação tomou outro rumo. Dener Laurito dos Santos, de 52 anos, confessou à Polícia Civil que forjou toda a história. Segundo os investigadores, ele entrou em contradição durante o interrogatório e acabou admitindo que simulou o sequestro e colocou o objeto suspeito na cabine da própria carreta.
De acordo com a polícia, o motorista não demonstrou arrependimento nem emoção ao confessar a farsa. O caso foi registrado como comunicação falsa de crime e pode resultar em responsabilização criminal do condutor.