Rubens Furlan defendia industrialização de Barueri já nos anos 1970
Político completa 45 anos de carreira e tem trajetória marcada por crescimento econômico da cidade
Para marcar força, Quércia contou com um aliado que já despontava como uma liderança importante do partido - Rubens Furlan, prefeito de Barueri que estava no primeiro mandato.
Furlan realizou uma "churrascada" em uma chácara da cidade, com a presença de 800 políticos de diversas cidades do estado para lançar Quércia. O apoio deu frutos e, em 1986, Quércia foi eleito, enquanto, em Barueri, Furlan consolidava a força de um grupo que não deixaria mais o poder até os dias de hoje.
Nesta semana, o prefeito celebrou 45 anos de vida pública, 40 deles no comando da prefeitura de uma das mais ricas cidades do Brasil.
A trajetória dele começou antes, em 1976, quando o país ainda vivia a ditadura militar. Foi eleito na primeira disputa para o cargo de vereador mais votado com 570 votos. Na Câmara ganhou projeção rápido e já era ouvido sobre os desafios da cidade.
"É impossível industrializar sem ferir o panorama ecológico. E é inviável sobrevivermos sem a industrialização", disse o então vereador ao "O Estado de S. Paulo", em 1978, em uma das primeiras declarações para um jornal de circulação nacional.
A fala era um apoio ao momento da cidade contra uma decisão do governo militar. O CDE (Conselho de Desenvolvimento Econômico) queria que todas as novas empresas tivessem aval da gestão federal, numa tentativa de descentralizar a industrialização, entendeu que a Grande São Paulo estava saturada. Prefeitos discordaram.
Barueri, por exemplo, vivia os primeiros anos do empreendimento de Alphaville, com a expectativa de instalar 400 indústrias novas na cidade, o que mudaria completamente o patamar e a arrecadação do município.
A defesa dessa industrialização foi crucial para o que viria nas décadas seguintes. Quando assumiu a prefeitura pela primeira vez em 1983, para substituir Arnaldo Rodrigues Bittencourt, Furlan recebeu uma cidade em situação melhor do que os vizinhos que apontavam a situação de falência.
O crescimento econômico da cidade com o apoio de lideranças estaduais fez com que o prefeito articulasse as próximas candidaturas. Apoiou e elegeu Bel Corrêa em 1989.
Foi deputado estadual de 1991 a 1993, quando deixou o mandato para voltar à prefeitura entre 1993 e 1996. Apoiou Gil Arantes (DEM), com quem se revezou no comando da prefeitura até 2016.
A dificuldade dos adversários em enfrentar o grupo fez com que ele sempre tivesse votações expressivas. Em geral, os concorrentes sempre apontaram o poder econômico dele e da máquina da prefeitura como fator decisivo. O PT, por exemplo, nunca conseguiu votações expressivas no município, mesmo no auge do governo Lula.
Furlan, do seu lado, sempre atribuiu a vontade popular e as realizações de suas gestões para ser eleito e fazer os sucessores.
A única vez em que a cidade viveu uma oposição com mais força foi entre os anos de 2010 e 2016. Se não era de um opositor nato, apenas um aliado poderia tentar enfrentá-lo. Foi o caso de Gil. Os dois romperam e Furlan lançou Carlos Zicardi (PMDB) para disputar a prefeitura em 2012.
Na eleição mais equilibrada da história da cidade, Arantes foi eleito com 54% dos votos, mas ganhou um opositor de peso.
Após a derrota de Zicardi, Furlan enfrentou dificuldades com seu partido, o PMDB, que passou a apoiar candidatos adversários aos cargos de deputado estadual e federal, contra a filha Bruna Furlan (PSDB), a presença da família em Brasília. O partido também impediu que ele concorresse a uma vaga na Assembleia Legislativa, o que levou Furlan a deixar a legenda.
Mas Gil teve dificuldades para governar, mesmo com apoio majoritário na Câmara. Chegou a ser afastado do cargo por 15 dias, por conta de investigações sobre as gestões passadas, o que minou sua popularidade. Na reta final, desistiu de concorrer à reeleição alegando problemas de saúde, mas na verdade abriu margem para o retorno de Furlan, que tentaria o quinto mandato.
A relação entre Furlan e Gil, que virou uma verdadeira guerra política, com xingamento entre apoiadores, voltou a ser amistosa - embora sempre discretamente. "Não tem nenhuma chance apoiar o Gil em 2024", afirmou em julho à Folha de Alphaville.
Em 2016. Furlan, agora no PSDB, articulava o retorno, mas não sozinho. Desde sempre, o gestor se alçou como a liderança regional, o que já causou atritos com outros prefeitos.
Nesse mesmo ano, apoiou candidatos a prefeitos como Igor Soares (Podemos), em Itapevi, Rogério Lins (Podemos), em Osasco, Rogério Franco (PSD), em Cotia, que venceriam as eleições e derrotariam grupos que estavam há anos no comando e que caíram em meio à crise.
Apenas em Carapicuíba, não avançou na campanha de Professora Sônia (Republicanos), com a vitória de Marcos Neves (PSDB). Também não influenciou em Santana de Parnaíba, onde teve uma relação próxima com Elvis Cezar (PSDB), mas se distanciou do tucano - a quem diz faltar humildade.
Reeleito em 2020 para o sexto mandato, Furlan chega aos 45 anos de vida pública ainda com poder difícil de ser disputado na cidade. Pode apoiar o vice-prefeito Roberto Piteri para a sucessão, mas aliados ainda sonham com a chance.
Difícil é ver o futuro da cidade sem a influência da mesma família. A deputada federal Bruna Furlan (PSDB), o filho Rubinho (PSDB), são sempre cotados para seguir seu legado. A cidade ainda conta com o presidente da Câmara, Toninho Furlan (PDT) como presidente da Casa.
Por fim, Furlan diversas vezes admitiu vontade de disputar o cargo de governador. Vontade que vem sendo menos comentada dada as dificuldades de uma aliança que envolva seu nome e o possível desgaste de um salto desse tipo.
Uma frase do documentário publicado esta semana indica esse distanciamento de sonhos além. "Não consegui fazer pelo Brasil, mas fiz por uma cidade inteira".