Sábado, 23 Novembro 2024

Economia

Brasil e China concordam em negociar em moedas locais

Economia

Brasil e China concordam em negociar em moedas locais

Volume de transações entre os dois países atingiu um recorde de R$775,9 bilhões em 2022 

Banco Chinês-Brasileiro de Comunicações BBM (Bocom BBM) iniciará suas operações no país em julho (Foto: Unsplash)

Brasil e China fizeram um acordo que pode agilizar o uso do real brasileiro e do yuan chinês para o comércio e investimento. Os dois países anunciaram seu plano de criar uma instituição bancária chamada Clearing House em 29 de março. Essa instituição permite que empresários brasileiros e chineses realizem transações e solicitem empréstimos utilizando o real brasileiro e o yuan chinês, em vez de dólares americanos. A instituição também possibilita que empresários locais fechem seus negócios em yuan e convertam seus ganhos imediatamente em real.

Essa medida não é surpreendente, já que a China é o maior parceiro comercial do Brasil há treze anos. Na verdade, o volume de transações entre os dois países atingiu um recorde de R$775,9 bilhões em 2022. A China é a principal compradora de minério de ferro, soja, carne, açúcar e celulose do Brasil, enquanto este último frequentemente exporta produtos de maior valor agregado para lá. Consequentemente, o país asiático visa agilizar o processo de negociação por meio de um acordo financeiro com o Brasil.

O Acordo entre Brasil e China

Como parte do acordo entre os dois países, o Banco Chinês-Brasileiro de Comunicações BBM (Bocom BBM) iniciará suas operações no país em julho. O Bocom BBM é a primeira instituição autorizada a operar o Sistema de Pagamento Interbancário Chinês (Cips), plataforma de pagamento no país. Essa plataforma de pagamento funciona de maneira semelhante ao sistema de pagamentos SWIFT, uma plataforma ocidental que conecta várias instituições financeiras em todo o mundo. Essa medida é monumental na América do Sul, já que o Brasil será o primeiro país da região a ter acesso a esse sistema de pagamento.

A adoção do sistema de pagamento também pode ajudar empresários e investidores no país, pois agora eles podem realizar transações diretamente utilizando o real brasileiro ou o yuan, eliminando a necessidade de trocar as moedas usando o dólar. Na verdade, Alexandre Lowenkron, diretor-executivo do Bocom BBM, destaca que os produtos financeiros e os acordos de câmbio da instituição podem proteger as operações de empresários e investidores brasileiros e chineses. Para ilustrar, o Bocom BBM também mostra que a conversão direta das duas moedas pode ajudar os empresários brasileiros a financiar suas operações utilizando o yuan. Os investidores também podem negociar as duas moedas e proteger seus investimentos em ambos os países sem precisar converter seus lucros em dólares americanos primeiro.

Eliminar o dólar nas transações é significativo, especialmente para a China. A CNN explicou que o governo de Xi Jinping visa reduzir a dependência dos países em relação ao dólar, aumentando a circulação do yuan. Isabela Nogueira, professora do Instituto de Economia da UFRJ, disse à CNN que o acordo entre Brasil e China é uma tentativa de contornar o poder estrutural do dólar americano no sistema monetário internacional. Muitos países utilizam o dólar americano devido ao poder estrutural do país na economia global, e a China pretende mudar isso por meio de seus acordos monetários com outros países.

Bruno de Conti, pesquisador do Centro de Estudos Brasil-China (CEBC) da Universidade Estadual de Campinas, disse à CNN que a Clearing House no Brasil também é uma tentativa de criar um mundo de múltiplas moedas. Conti ressalta que o governo chinês afirma que não está tentando desafiar o dólar. O pesquisador observa que o país não tem as condições econômicas adequadas para igualar o yuan ao dólar americano, que ainda é a moeda mais importante globalmente. Na verdade, a moeda americana é utilizada em 88% de todas as transações globais, enquanto o yuan representa 7%.

Como Esse Acordo Impacta as Operações Cambiais no Brasil

O acordo com a China pode afetar as operações cambiais no país. De fato, um relatório do Banco Central em 31 de março revelou que o yuan já ultrapassou o euro nas reservas internacionais do Brasil, tornando-se a segunda moeda estrangeira mais importante do país. Embora a China tivesse fortes laços comerciais com o Brasil, o yuan não fazia parte das reservas internacionais do país até 2018. Em 2022, o yuan representa 5,37% do total das reservas internacionais do país, enquanto o euro representa apenas 4,74%. O yuan pode rapidamente ganhar valor e superar o euro à medida que os brasileiros começam a usar a moeda no comércio, nas operações comerciais e nos investimentos.

Enquanto isso, o dólar americano continua sendo a moeda mais poderosa nas reservas internacionais do Brasil. Na verdade, o dólar ainda representa 80,42% do total das reservas internacionais do país até o final de 2022. Essa posição não é surpreendente, já que o dólar americano ainda domina outras moedas estrangeiras. O dólar americano continua sendo a moeda mais negociada para aqueles que negociam forex devido à posição econômica forte do país. Na verdade, o dólar americano é normalmente negociado em relação a outras moedas estrangeiras nos principais e secundários mercados, enquanto o yuan chinês é negociado apenas em mercados secundários. Portanto, não é surpreendente que a maioria dos investidores prefira usar o dólar em vez do yuan.

Especialistas consideram até mesmo o dólar americano como um refúgio seguro para os brasileiros. Leandro Sobrinho, sócio da Raise Investor, explica que os brasileiros que procuram um investimento estrangeiro seguro devem usar o dólar americano em vez de outras moedas estrangeiras e até mesmo o real brasileiro. Sobrinho explica que, apesar das flutuações nas taxas de câmbio, o dólar historicamente se valorizou mais do que o real no mercado de câmbio.

Dessa forma, os especialistas estimam que muitos empresários continuarão usando o dólar em vez do yuan. De Conti diz à CNN que a maioria das empresas ainda prefere usar o dólar porque ele é a moeda de reserva mundial. Muitos exportadores também preferem fazer transações com empresas usando dólares, pois a moeda é uma reserva confiável para eles. Assim, as empresas ainda têm a opção de continuar usando o dólar, mesmo havendo uma possibilidade formal de usar o yuan para transações. Os especialistas acreditam que as instituições financeiras devem realizar um processo de implementação lento e gradual antes que as empresas adotem o yuan como moeda de transação no Brasil.

A introdução do Bocom BBM pode aumentar as opções de transações para empresários que negociam com empresas estrangeiras. No entanto, pode levar tempo antes que a maioria dos empresários, comerciantes e investidores usem o yuan chinês e os sistemas de pagamento no país. 

Newsletter
Não perca nenhuma notícia.

Inscreva-se em nossa newsletter gratuita.


Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.folhadealphaville.com.br/