As lições de Brumadinho. Quanto vale uma vida?
Não se pode deixar de falar de Brumadinho.
Quando esta coluna for publicada, terão se passado duas semanas da monumental tragédia. Provavelmente mais de 150 corpos terão sido resgatados e outras tantas pessoas continuarão desaparecidas. Infelizmente, Brumadinho seguirá sendo notícia até que outra tragédia aconteça. Poderá não ser tão mediática, quanto Brumadinho e Mariana, ou pode ser ainda maior que elas. O motivo? Simples! Nossa sociedade atual, em especial a brasileira, não dá valor à vida da pessoa humana. Nós, pessoas humanas, nos tornamos um bem de produção extremamente descartável e sem valor. Apenas para citar alguns números, cerca de 130 pessoas morrem por dia no Brasil vítimas do trânsito; outras 160 são assassinadas; quantas morrem nos hospitais à espera de um atendimento? Centenas, dezenas, o que importam as estatísticas? Em perdas humanas equivalem a um Brumadinho por dia. Se apenas uma única morresse já deveríamos ficar indignados, saindo às ruas, exigindo soluções. Mas nos resignamos, afinal, a vida não vale nada. Economicamente falando, é um bem descartável.
Sim, aqui está o cerne do problema. Brumadinho está no centro do noticiário, porque sua tragédia foi televisada, com um roteiro hollywoodiano. Uma das maiores empresas brasileiras, reincidente em catástrofes com barragens, perdeu, por sua inépcia, grande quantidade de seus próprios funcionários. Será que os ricos e poderosos senhores da Vale agora irão pagar pelos seus erros? Ou escaparão de novo no meio do cipoal de recursos e protelações do sistema judicial brasileiro? Mas e nós? Como sociedade, que responsabilidade temos nesse nefasto episódio?
Como reflexão, pergunto qual município brasileiro recusaria a instalação de uma empresa de mineração, ou outra qualquer, cuja atividade traga, intrinsicamente, riscos à população? Quem, em sã consciência, recusaria os impostos desses gigantes econômicos? Qual veículo de comunicação se recusaria a anunciar as propagandas de empresas contaminantes ou que destroem o meio ambiente? Me atrevo a responder que nenhum, e por quê? Porque vivemos sob a égide da sociedade de consumo, do acúmulo de bens. Respeitamos, adoramos e matamos pelo "deus" Dinheiro. O Dinheiro é o norte magnético da bússola de nosso sistema de vida, não o ser humano, nosso semelhante. A este, vamos tentar explorar e pagar salários que não permitam que tenha uma vida digna.
Enquanto nós não mudarmos, nada mudará. A verdadeira transformação depende de nós, a sociedade humana. Se nós mesmos não nos respeitamos, como vamos pedir para uma empresa, que visa ao lucro em primeiro lugar, se preocupar em investir na segurança de seus funcionários, de seu entorno, de pessoas que nada significam para ela? Vamos esperar pela próxima tragédia! Um dia aprenderemos quanto vale uma vida.