Walcyr Carrasco estreia no teatro com texto que evoca a fé
Com direção de Fernanda Chamma, o espetáculo musical "Aparecida" sobe ao palco do Teatro Bradesco, no dia 22
Uma história emocionante de fé indicada para pessoas de todas as religiosidades, "Aparecida", com texto de Walcyr Carrasco e direção de Fernanda Chamma, estreia no Teatro Bradesco, dia 22. O espetáculo tem composições e direção musical de Carlos Bauzys.
Com 33 atores/cantores e bailarinos, 12 músicos, 20 canções originais, 300 figurinos e cenários grandiosos, a superprodução musical conta a história de alguns dos mais conhecidos milagres de Nossa Senhora Aparecida, um dos maiores símbolos de fé dos brasileiros há mais 300 anos.
"Nossa Senhora Aparecida faz parte do cotidiano de milhões de brasileiros. A fé, a coragem, e a solução de pequenos e grandes problemas vêm da devoção criada em torno de Aparecida. Acredito que mesmo quem não seja estritamente católico saberá respeitar o espetáculo que, além disso, teve uma concepção de direção e musical muito original. Eu tenho uma conexão muito grande com a fé popular e em consequência, Nossa Senhora Aparecida", comenta Walcyr Carrasco sobre os motivos que o levaram a escrever a obra. Ele faz sua estreia no teatro com o musical.
Inspirada na história de um milagre real e contemporâneo, a peça mostra ao público um exemplo de crença e peregrinação capaz de operar as transformações humanas mais difíceis. "Eu estava em busca de um milagre atual, que reafirmasse a fé. Ao conhecer o casal que protagoniza a história, me entusiasmei, por não criar um espetáculo simplesmente histórico", revela o dramaturgo.
Com grandes nomes do teatro musical brasileiro, o elenco é formado por Leandro Luna, Bruna Pazinato, Alessandra Vertamatti, Ana Araújo, André Torquato, Arthur Berges, Bernardo Berro, Cadu Batanero, Daniel Cabral, Ditto Leite, Edson Monttenegro, Frederico Reuter, Gigi Debei, Guilherme Pereira, Isa Castro, Isabel Barros, Joyce Cosmo, Keila Bueno, Lucas Nunes, Marcelo Vasquez, Maria Clara Manesco,Maysa Mundim, Nábia Villela, Nay Fernandes, entre outros.
O enredo
O ponto de partida da trama é a história real do casal Caio (Leandro Luna) e Clara (Bruna Pazinato), que mora na São Paulo contemporânea e não tem qualquer tipo de crença religiosa. Com a esperança de curar Caio, que está prestes a perder a visão por causa de um câncer no cérebro, os jovens embarcam em uma jornada de descobrimento espiritual e testemunham parte da trajetória de Nossa Senhora Aparecida.
A narrativa volta, então, ao passado para recontar alguns grandes milagres operados pela santa padroeira do Brasil. Uma das histórias conta que humildes pescadores, que já não encontravam mais peixes, pescam em diferentes lugares do mesmo rio, o corpo de uma santa negra e depois sua cabeça. Eles lançam novamente a rede às águas e são surpreendidos por uma quantidade inacreditável de peixes.
Outro milagre aconteceu em um oratório em Itaguaçu, onde um grupo de pessoas rezava diante da imagem de Aparecida. Certa vez, durante as orações do terço, as velas de todos os presentes se apagaram e se acenderam sozinhas em seguida, de maneira misteriosa. Em outra manifestação da santa, um homem tentou invadir a igreja a cavalo zombando da fé dos romeiros e, quando ele menos esperava, as patas do animal ficaram grudadas no degrau de entrada da igreja. A partir daquele dia, o cavaleiro virou devoto de Nossa Senhora.
O escravo Zacarias, depois de fugir da fazenda onde trabalhava foi capturado, e na volta, quando passava em frente a capela de Aparecida, ele pediu ao feitor para rezar, e sua oração foi tão comevente que os grilhões presos a seu corpo caíram milagrosamente. Quando soube do ocorrido, o senhor de Zacarias concedeu-lhe a liberdade.
Entre essas histórias, o musical relembra o atentado que Nossa Senhora Aparecida sofreu na Igreja Velha em 1978, quando um jovem transtornado quebra a santa em mil pedaços. Os cacos da imagem foram levados secretamente ao MASP – Museu de Arte de São Paulo para restauração, o que também foi considerado um milagre. Depois de pronta, a imagem passa pelo Brasil inteiro até voltar apoteoticamente ao seu santuário, onde é aguardada por milhares de devotos.
Depois de conhecer todas essas histórias, Caio e Clara decidem visitar o Santuário de Aparecida, que recebe mais de 17 milhões de fiéis por ano, e lá são tomados pela energia do local. Quando Caio oferece sua devoção e amor à santa, outro milagre acontece e o espetáculo acaba em uma grande apoteose.
A encenação
Para construir a narrativa, o musical adota uma encenação bem moderna, cheia de efeitos especiais. Para a diretora e coreógrafa Fernanda Chamma, o trabalho explora bastante a interação do elenco e ensemble com a cenografia. "Quero fazer uma encenação bem de vanguarda e moderna de acordo com as novas tendências do teatro musical. O cenário vai ser todo explorado pelos atores, inclusive durante as canções e cenas. Como ele não é estático, o elenco vai desenhar as situações cênicas o tempo todo. Estou pedindo para a equipe criativa procurar uma mescla de emoção e ineditismo para criarmos um espetáculo gostoso e dinâmico, que atinja todos os tipos de público", revela Fernanda.
A coreografia, ainda segundo ela, vai buscar desconstruir o movimento. "Eu não vou dançar a história de Nossa Senhora Aparecida, vou contá-la através do movimento. Vamos usar uma movimentação cênica contemporânea, com muitas entradas e saídas de 32 atores não só nas coxias, mas em toda a cena, em todo o teatro. Para desconstruir esse movimento foi preciso selecionar bailarinos com uma bagagem técnica enorme. O elenco está envolvido com a obra em praticamente todas as cenas", acrescenta.
Sem atualizações
A história é contada a partir de 20 músicas originais, cujas letras foram compostas por Ricardo Severo a partir do texto de Walcyr e as melodias e arranjos, pelo diretor musical Carlos Bauzys. Elas serão interpretadas por um coro de 32 cantores e 12 músicos. "Eu não procurei atualizar a história porque ela é uma só, com os fatos e milagres que aconteceram. Mas inclui sim um milagre muito atual que eu mesmo testemunhei. Mas não entrarei em detalhes. Deixo para quem assistir o espetáculo", finalizou Carrasco, que também dirigiu a novela global "A Padroeira", com a mesma temática, em 2001.